Essa atitude é muito mais comum do que parece, embora muitas vezes a causa que a origina seja ignorada. Não ter o telemóvel no modo som é mais comum do que se imagina, embora muitas pessoas considerem normal estar disponível e conectado o tempo todo. Do ponto de vista da psicologia, esse comportamento pode estar relacionado com a forma como processamos a presença constante de estímulos, a autoexigência, o gerenciamento da atenção e a relação com as demandas externas. De acordo com a psicóloga clínica Andrea Bonior, muitas pessoas experimentam o que ela chama de “fadiga de notificações”: uma sensação de exaustão mental diante da ideia de serem interrompidas a qualquer momento. Numa entrevista ao The Washington Post, Bonior explica que «o som de uma notificação pode ativar uma reação fisiológica semelhante ao stress, mesmo que o conteúdo não seja urgente». Por isso, algumas pessoas optam pelo silêncio como forma de regular esse impacto.
A nível emocional, o especialista em comportamento tecnológico Adam Alter, professor de psicologia na Universidade de Nova Iorque, salienta que as notificações são concebidas para gerar uma resposta imediata. Segundo o especialista, «o telemóvel reclama a nossa atenção antes de podermos decidir se queremos dar-lhe atenção», o que pode ser invasivo. Esta sensação pode levar a pessoa a silenciar o dispositivo como forma de recuperar o controlo. Também pode haver um componente de experiências anteriores: se uma pessoa associou o som do telefone a momentos de stress, urgências familiares ou trabalho invasivo, pode optar por evitar o som para não reativar essa memória emocional. Nem sempre se trata de rejeição à comunicação em si, mas à carga simbólica que o telefone adquiriu.

Por que algumas pessoas preferem manter o telemóvel sempre no modo silencioso
- Ansiedade por notificações constantes: a expectativa de responder pode gerar pressão.
- Necessidade de controlo: decidir quando ler as mensagens acalma a sobreestimulação.
- Desconforto com a imediatidade: algumas pessoas não gostam de responder instantaneamente.
- Experiências negativas associadas ao som: alertas anteriores podem ter sido invasivos.
- Preferência pessoal: algumas pessoas simplesmente valorizam a tranquilidade e o foco.
Em definitiva, ter o telemóvel sempre em silêncio não implica desinteresse, frieza ou desconexão. Pode ser uma forma de autocuidado, de estabelecer limites ou de proteger a própria energia emocional. A chave está em respeitar como cada pessoa decide gerir a sua disponibilidade e a sua interação com o mundo digital.
Como é que essas pessoas vivem emocionalmente o uso do telemóvel?
Para muitas pessoas, o silêncio não significa ausência, mas uma forma de habitar a comunicação a partir de um lugar mais consciente. É uma maneira de respirar, de ouvir o próprio ritmo antes de responder às demandas externas. Esse equilíbrio pode ser fundamental em contextos de alta estimulação. Do ponto de vista da psicologia, entende-se que esse hábito não indica necessariamente evasão ou isolamento, mas uma forma de gerir a identidade e o tempo numa sociedade que exige imediatismo. O que os outros veem como desconexão, a pessoa vive como recuperação de si mesma.
