Na conversa, o líder da equipa científica falou detalhadamente sobre as possibilidades e limitações desta metodologia revolucionária no campo do desenvolvimento tecnológico. Será que ela poderá ser aplicada nos dispositivos que usamos diariamente? O currículo de John LaRocco é extenso e diversificado. Ele é neuroengenheiro, especialista em interfaces «cérebro-computador», processamento de sinais e aprendizagem automática, um dos ramos da área mais ampla da inteligência artificial. Além disso, é um entusiasta reconhecido das artes marciais e dos videojogos. Entrámos em contacto com ele para que nos contasse detalhes sobre a sua pesquisa, que, ao que tudo indica, é promissora. Em que consiste a inovação que propõe? Juntamente com a sua equipa na Universidade Estadual de Ohio, criou um computador que utiliza filamentos de cogumelos para armazenar informação.
Como já mencionámos anteriormente na TN Tecno, eles utilizaram o cogumelo comestível shiitake para desenvolver um memristor funcional. Basicamente, os memristores são componentes elétricos passivos com duas saídas que combinam as propriedades de memória e resistência. São elementos básicos em um circuito, juntamente com o condensador, o indutor e o resistor. As perspetivas desta metodologia parecem promissoras. Os cientistas prevêem enormes vantagens para o desenvolvimento de componentes tecnológicos, entre as quais se destacam a sua sustentabilidade ecológica e a redução significativa dos custos. É lógico: os cogumelos são muito mais baratos e fáceis de obter do que o silício ou o dióxido de titânio, que são atualmente utilizados para estes fins.
Por estas razões, LaRocco afirma que «o futuro da computação pode ser fúngico». Não se trata de uma quimera louca de Black Mirror, uma série de televisão que se tornou um padrão de ficção científica e de um futuro tecnológico acessível. Em vez disso, a previsão do especialista baseia-se num facto já estudado: o micélio, uma rede de filamentos finíssimos nos cogumelos, tem semelhanças com os neurónios. A semelhança não é apenas física, mas também funcional, porque ambos transmitem informações através de sinais químicos e elétricos.

«Sabemos que os cogumelos são elétricos»
Numa conversa com a TN Tecno, LaRocco explica que as propriedades únicas do micélio são conhecidas desde meados da década de 70. «Sabemos que os cogumelos são elétricos desde aproximadamente 1976, quando foi publicado um estudo intitulado Potenciais de ação em Neurospora Crassa, um cogumelo micelial», diz ele, referindo-se ao estudo que pode ser consultado aqui. «No entanto, a figura mais proeminente no uso de cogumelos como dispositivos informáticos foi o professor Adamatsky, do Reino Unido, por volta de 2022 ou 2023», acrescenta.
— Que parte do cogumelo é usada? E como é processada para esses fins?
– Diferentes partes dos cogumelos têm propriedades diferentes. Algumas funcionam como memristores, outras como condensadores e outras ainda como resistores. No entanto, consideramos o micélio como um memristor como um todo, embora observemos essas estruturas menores.
– Quais foram as principais dificuldades durante o desenvolvimento?
– Além da burocracia, foi o cheiro dos cogumelos durante o cultivo.
– É verdade que o micélio dos cogumelos tem uma estrutura e funções semelhantes às dos neurónios?
– É verdade que ele pode gerar impulsos elétricos semelhantes aos dos neurónios. Mas é importante notar que ele é um pouco mais descentralizado do que o nosso sistema nervoso.
– Podemos esperar que, no futuro, tais soluções façam parte dos nossos dispositivos? O que é necessário para que isso se torne realidade?
– No momento, o fungo é muito volumoso em comparação com a eletrónica. Precisamos melhorar o tamanho, o cultivo, a fiação e o armazenamento. No entanto, mesmo com o seu tamanho atual, os dispositivos fúngicos têm algumas aplicações potenciais, como sensores portáteis, simulações de tecido nervoso, bem como na indústria aeroespacial e para monitorização ambiental. Nos testes realizados, o memristor fúngico demonstrou um desempenho de 5850 hertz e uma precisão de 90%. A equipa liderada por LaRocco ainda tem um longo caminho a percorrer, considerando que os modelos comerciais mais lentos funcionam a uma velocidade pouco menos que o dobro.
